O Mundo do Automóvel para PcD recebeu mais um veículo para testes e dessa vez mais um que, infelizmente, não é comercializado para pessoas com deficiência com isenções por dois motivos: ultrapassa o teto de R$ 200 mil para a concessão da isenção do IPI e é uma picape. Estou falando da RAM Rampage R/T.
E é sem dúvidas o veículo mais divertido que já passou por nossas mãos nesses três anos com avaliações “rotineiras”, pois alia muito bem a proposta de desempenho com conforto, sofisticação, tecnologia e potencial off-road. Porém, tudo tem seu custo, R$ 289.990 nesse caso.
Posteriormente, traremos ainda outras matérias destrinchando um pouco mais da única RAM fabricada no Brasil, juntamente com Fiat Toro, além de Jeep Renegade, Compass e Commander na unidade fabril da Stellantis em Goiana-PE.
Vamos começar pelos pontos que agradaram e posteriormente os demais:
5 PONTOS POSITIVOS
1.Desempenho
De cara é um dos pontos que mais encantou na picape, até por estarmos falando de uma versão realmente esportiva, uma legítima R/T, versão que vem desde a época da Dodge e que significa Road and Track, ou estrada e pista em português.
Ou seja, trata-se de um veículo cujo propósito principal é conferir agilidade e desempenho de sobra, algo que a Rampage entrega. Além de um diverso trabalho específico para a suspensão, por exemplo, ela conta com um propulsor 2.0 turbo movido a gasolina que é o responsável pela “pimenta”.
Da família Hurricane, ele já equipa há um tempo o Jeep Wrangler e mais recentemente Compass e Commander nas versões topo, dispondo de potência de 272 cavalos a 5.200 rpm e de torque de 40,8 kgfm a 3.000 rpm – rotação relativamente alta, mas que não é necessariamente um problema.
Com ele, a picape vai de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos, de acordo com o divulgado, tornando-a o produto do segmento mais rápido fabricado no país. Só marketing? Nem um pouco!
A Rampage R/T de fato impressiona o condutor com entrega de potência e torque que proporcionam ultrapassagens seguras e retomadas bastante rápidas. Porém, nada disso funciona se não há um bom acerto de câmbio. Sempre fui um tanto crítico da lentidão demonstrada pela transmissão automática ZF9 nos veículos da Stellantis, mas aqui ele se comporta relativamente bem.
Não é um câmbio que atua como um automatizado de dupla embreagem, por exemplo, mas ele passa mais suavidade e esperteza se comparado aos demais veículos com essa transmissão, até mais em relação a própria Rampage diesel.
2Conforto ao dirigir
A Rampage R/T até tem vocação esportiva, mas também agrada os que preferem uma posição de guiar mais elevada. Com diversos ajustes elétricos no banco, incluindo de lombar, qualquer usuário encontra uma posição cômoda para dirigir, sem falar que o volante possui regulagem de altura e profundidade.
Para aqueles com estatura mais baixa, como eu que meço 1.75 metro, o capô que possui certa elevação pode acabar se tornando um incômodo e o banco mais alto acaba sendo uma solução. Porém, o cuidado para embarcar e desembarcar é redobrado, principalmente para quem é cadeirante, também como eu, já que com o banco mais alto há consequente elevação da distância para o solo/cadeira.
Já com relação a parte de banco, a Rampage mescla couro e suede, sendo o último na parte de encosto, o que acaba de certa forma também impactando positivamente em dias quentes, já que diferente do couro, não absorve tanto calor.
A suspensão possui acerto mais firme em relação as demais versões, até pelo propósito, mas sem renunciar ao conforto, sobretudo em vias com pouca ou nenhuma pavimentação. Nesse aspecto, grande ponto do time de engenharia da Stellantis.
3.Tecnologia e conectividade
Desde a versão de entrada da Rampage, a Rebel, ela já vem bastante completa e recheada de recursos tecnológicos. Começando pela central multimídia de 12,3” que diferente dos produtos RAM maiores, não possui tela na vertical, mas que ainda assim é bastante atrativa pela rapidez de processamento, nitidez e recursos, como o GPS nativo e Android Auto/Apple CarPlay sem fio.
Há ainda o painel de instrumentos totalmente digital de 10,3” que é bastante configurável e repete o bom atributo de nitidez da multimídia. Com grafismos predominantes na cor azul, ao acionar o modo R/T, o layout muda para um predominantemente vermelho. Mas há um pênalti: a exemplo de algumas outras marcas que possuem GPS nativo, o painel da Rampage poderia ter um modo de exibição do mapa.
O aplicativo My UConnect que pode ser instalado em qualquer celular faz do dispositivo um verdadeiro controle do veículo, onde podem ser controladas as travas das portas, bem como ligar/desligar o motor remotamente, rastrear o veículo e demais outras funções.
4.Assistência ao condutor
A parte de assistência a condução é bastante completa, com piloto automático adaptativo com Stop&Go de fácil uso e que facilita muito a vida no trânsito, principalmente de PcDs, frenagem automática de emergência que é bem calibrada, além de farol alto automático, alerta de ponto cego e o assistente de permanência em faixa que é um tanto indeciso.
Porém, a exemplo dos Jeep Compass e Commander, a picape deve ganhar sistema de centralização de faixa na linha 2025, o que tende a conferir mais comodidade e segurança.
Vale destacar também que em situações de baixa visibilidade, como alta incidência solar no fim de um dia, o próprio sistema do carro desativa os assistentes, o que de certa forma é “ruim”, já que acabam por não auxiliar o motorista em um eventual risco.
5.Acabamento
A Rampage segue o mesmo nível de acabamento de Compass e Commander, sendo bastante superior ao da Toro, tendo material soft touch na parte superior do painel, mesclando com uma parte plástica contrastante abaixo das saídas de ar e abaixo com o mesmo suede dos bancos, conferindo aspecto de sofisticação ao interior da picape.
Nas portas dianteiras, material soft touch na parte superior com suede abaixo e couro nos apoiadores de braço, valendo destacar que não é um mero revestimento e sim uma peça com uma boa espuma por baixo para também agregar conforto aos usuários.
Nas portas traseiras, porém, com exceção do couro nos apoiadores de braço, predominância de plásticos rígidos. No mais, a qualidade de montagem é bastante nítida e o modelo possui basicamente nenhum rangido de acabamento, considerando que o exemplar tem quase 1 ano de uso e na faixa de 8000 km rodados.
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5 PONTOS NEGATIVOS
Relembrando mais uma vez que não estamos falando de coisas que desabonam o produto e sim observações que foram vistas durante a avaliação.
1.Ausência de capota marítima
Item primário numa picape, a RAM Rampage em nenhuma versão conta com capota marítima de série, sendo somente um acessório ofertado na rede de concessionárias da marca em dois tipos: a tradicional lona e elétrica.
Por várias vezes que precisei sair e a minha cadeira de rodas foi na caçamba, ficou a preocupação de eventuais chuvas a molharem e a possibilidade de danificar. Porém, imagine uma família com o carro cheio em uma viagem longa e de repente começa a chover? Acaba que tudo se molha e dependendo do que estiver armazenado pode acabar se deteriorando.
Não apenas isso, mas a questão de sujeira e de ruídos na própria cabine do carro em velocidades maiores, já que atrapalha a passagem de vento e como consequência a aerodinâmica.
2.Ausência de câmera 360º
A Rampage é uma picape que não chega a ser média, feito Toyota Hilux, Ford Ranger e similares, sendo um pouco maior que a “irmã” Toro. Com 5.02 metros de comprimento total, ela não é necessariamente um veículo difícil de manobrar, tendo 12 metros de diâmetro de giro. Para comparação, uma Ranger possui 12.8 metros, enquanto a própria Toro tem 12.2 metros, mesmo sendo menor.
Porém, quando falamos de uma faixa de preço próxima dos R$ 300 mil, o recurso da câmera 360º se faz importante, haja visto que existem modelos que custam metade disso e já têm esse item.
3.Vida a bordo na traseira
Com a Rampage realizei uma viagem com cinco ocupantes no veículo, sendo os três traseiros com estaturas medianas e foi unânime entre todos que o carro peca na questão do espaço traseiro para os passageiros. Mesmo com um entre-eixos de 2.99 metros, ela sofre de relativa falta de espaço para as pernas e o banco é exacerbadamente reto em seu encosto, mas é um pouco até que comum entre picapes.
Ademais, outra crítica foi em relação as saídas de ar existentes, alegando baixa ventilação e o fato de serem baixas não proporcionam o devido conforto, ficando a mercê do ar-condicionado dos ocupantes dianteiros, estes sim conseguem ter bastante refrigeração.
4.Ausência de seletor de terreno
Concebida basicamente sob a mesma “filosofia” dos modelos da Jeep fabricados no Brasil, a Rampage tem em todas as versões a tração integral sob demanda, tendo a função reduzida, podendo ser acionada pelo botão 4×4 Low do console. Contudo, algo crucial poderia fazer diferença, o seletor de terrenos.
Assim como a picape Toro, a Rampage não tem o seletor de terreno dos carros da Jeep, ficando o motorista obrigado a ter apenas o modo automático ou a reduzida para escolher. Isso não faz dela um veículo ruim de off-road por completo, mas fica nítido que ela poderia ter uma desenvoltura muito melhor se pudesse escolher alguma outra opção.
Pude testar o modelo na areia e, embora ela vá relativamente bem, não é raro perceber a Rampage se “engasgando” para se desvencilhar de algumas situações, algo que nos Jeep testados até aqui não foi notado.
5.Visibilidade pelo retrovisor interno
Sabe aquele recurso onde o retrovisor interno pode ter a visão trocada por uma câmera? Pois bem, parece exagero, mas esse recurso das irmãs maiores faria muito bem ao modelo da RAM. Novamente, esse componente é dividido com os Jeep feitos na mesma planta, o que acabaria inviabilizando a adoção de tal recurso de forma exclusiva nela, sem falar no encarecimento consequente.
Quando a Rampage chegou ao mercado e até os dias atuais, muito é discutido sobre uma desproporção no seu tamanho e este que vos escreve até concorda, mas não é algo que incomoda tanto. A própria concorrente Ford Maverick, mais baixinha, particularmente não me cativa tanto aos olhos.
Mas, essa tentativa da engenharia da Stellantis de trazer mais imponência ao design da Rampage custou um pouco caro à sua visibilidade traseira, pois a caçamba ficou notadamente mais alta que a dianteira e ao olhar pelo retrovisor fica bastante evidente, com a caçamba ocupando boa parte da visão do condutor e por consequência criando um razoável ponto cego.