O Mundo do Automóvel para PcD avaliou por um período de onze dias a picape média Fiat Titano, primeira tentativa da marca italiana de representar esse segmento no mercado brasileiro. Vale destacar que lá fora já foi vendida a Fiat Fullback, um mero rebadge da antiga geração da Mitsubishi L200 Triton que conhecemos.
Com a Titano não é diferente, já que o modelo nada mais é do que uma Peugeot Landtrek com grade e emblemas trocados, modelo que também tem sido vendido em outros mercados como RAM 1200. Porém, a Stellantis, conglomerado do qual as três marcas participam aproveitou sabiamente o potencial da Fiat no Brasil com veículos comerciais.
O projeto, porém, não é de origem Peugeot, mas sim da chinesa Changan F70, ou seja, a Titano nada mais é do que fruto de uma “mistura” de modelos vendidos pelo mundo. E isso representa uma falta de DNA Fiat em seu modelo.
DO VEÍCULO
A começar pelo design, diferenciando-se da Landtrek apenas pelo conjunto de rodas, emblemas e pela grade com elementos internos exclusivos. Na versão topo, a Ranch, o DRL é em LED e fica parecido com o que a Peugeot chama de “dente de sabre”, entregando ainda mais a identidade francesa.
Contudo, a Titano é sim uma picape bonita e de presença, tendo dimensões notáveis e uma altura bem imponente – afinal, são 5,33 metros de comprimento e 1,85 metros de altura. Falando especificamente da versão Volcano, intermediária, todo o conjunto óptico é halógeno e dispensa os projetores da versão mais completa. De fato gera um leve empobrecimento do design, mas precisamos ressaltar o posicionamento dela no mercado. Bom, isso é pauta para outro parágrafo.
As laterais trazem rodas de 17” com um desenho bem interessante e mesclando acabamento diamantado com um tom de cinza, tendo ainda pneus de tamanho 265/65. Estribos e santantônio apenas na versão mais completa, assim como detalhes cromados, enquanto na Volcano são na cor da carroceria.
Voltando ao assunto dimensões, a Titano tem também a maior caçamba do segmento, dispondo de 1.109 litros de capacidade. O entre-eixos tem 3,18 metros e garante um relativo bom espaço para os ocupantes, mas isso é assunto para depois. Com 80 litros de tanque de combustível, a picape da Fiat pode chegar a 744 km de autonomia pelo INMETRO, mas não é difícil ver a autonomia chegar aos 800 km pelo painel.
Hora de falar do interior, onde a picape da Fiat mais uma vez mostra não ter identidade alguma com a marca e sim com a Peugeot, já que a única distinção dela para a Landtrek está no emblema do volante. Volante esse que é de dois raios, como é comum nos veículos da “marca do leão”, tendo regulagem somente de altura.
Como é de praxe no segmento, há o uso de plásticos rígidos em demasia, mas de bom aspecto e com boa montagem. Aliás, chamou a atenção a ausência de ruídos internos na picape em situações como off-road, onde a cabine do veículo sacoleja constantemente. Os comandos são de fácil acesso e alguns deles estão em botões que parecem um piano, também ao estilo da Peugeot.
A central multimídia é do tipo flutuante com tela de 10 polegadas e layout deveras pobre, assim como a resolução simples do visor e a qualidade das câmeras, lembrando que a Titano conta com uma câmera 180º nessa versão, onde além da tradicional de ré é adicionada uma ao retrovisor direito que é acionada ao dar a seta até 30 km/h. Ainda sobre a multimídia, o espelhamento via Android Auto/Apple CarPlay só se dá via cabo e de maneira instável, sendo recorrente a necessidade de reiniciar o sistema.
Já o painel de instrumentos traz o conta-giros no sentido anti-horário, assim como os demais modelos da marca francesa, o que gera certa confusão para quem ainda não está habituado. Porém, traz todas as informações em fácil acesso, inclusive as que estão no computador de bordo de 4,2 polegadas.
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A CONVIVÊNCIA COM A TITANO
Foram onze dias e 400 quilômetros com a picape média da Fiat e durante esse período foi possível tirar algumas conclusões sobre o modelo, para o “bem” e para o “mal”. Confesso que logo que soube que a Titano seria avaliada fiquei bastante feliz, já que nunca havia dirigido o modelo e era um dos que eu mais esperava conduzir para chegar a uma opinião pessoal do produto.
Se você é um cliente de picape média, certamente já está habituado a algumas situações comuns desse tipo de veículo, como trepidações frequentes e dificuldade de manobrar. Esse primeiro ponto, de forma mais específica, era o de minha maior curiosidade.
Isso, pois não era raro ao assistir as avaliações da Titano as reclamações a respeito de trepidações excessivas na cabine e na direção do veículo, sendo algo facilmente notado também nos vídeos com a voz picotada. Com isso, vem o questionamento, a Titano trepida em excesso mesmo?
Sim e não! Sabemos que a proposta principal de veículos desse segmento não é o uso em cidades e rodovias, mas sim em percursos de estrada de chão, entre outros relevos dificultosos. Porém, é basicamente impossível utilizar uma picape 100% do tempo nesse tipo de terreno, sobretudo no mundo atual, onde as pessoas cada vez mais compram picapes para usos mais convencionais.
Nesse cenário, a Titano não chama a atenção por trepidação na cabine em si, mas sim na direção, onde em buracos e(ou) velocidades mais altas é claramente possível perceber o volante se comportando de maneira “boba” e até mesmo desviando o carro da trajetória, ainda que levemente. A 110 km/h na rodovia, por exemplo, já é possível perceber essa trepidação de maneira mais contundente.
Conversando com algumas pessoas que foram ao lançamento do veículo e a conduziram também depois, a opinião é basicamente igual: ela trepida, mas consideravelmente menos que na apresentação. O que é extremamente positivo, já que muito provavelmente foi revisto o acerto para ela. Ou seja, o que para muitos incomoda, aparentemente já foi pior e minimizado prontamente.
Quando vamos para o off-road, a Titano já se comporta de maneira diferente, tendo uma direção mais responsiva e até com certo conforto na suspensão, sobretudo para quem anda atrás. Outra peculiaridade da picape nesse tipo de situação é que quanto maior a velocidade, mais “gostosa” de andar ela fica. Quero dizer que nessas situações a suspensão filtra muito bem as irregularidades do solo, passando quase nada tanto na direção quanto para os passageiros.
MOTORIZAÇÃO E DESEMPENHO
A Titano tem por baixo do capô o propulsor 2.2 turbodiesel que equipa também as vans Ducato, Jumper e Boxer, ou seja, uma mecânica consagrada e que tem longo tempo no mercado. Seu câmbio é automático de seis marchas, podendo ser manual na versão Endurance.
São 180 cavalos de potência e torque de 40,8 kgfm que são apenas suficientes para a Titano, não proporcionando “emoções ao veículo”, já que os números são menores até mesmo que o de uma Ranger 2.0 que tem 170 cavalos e 41,3 kgfm, e bem distantes da média do segmento que é de 200 cavalos e 50 kgfm.
Conforto é que no próximo ano a picape deve ganhar o mesmo propulsor da RAM Rampage 2025, um 2.2 com 200 cavalos e 45,9 kgfm que deve dar um fôlego a mais para a picape. Seu consumo durante os testes variou entre 7,5 a 8 km/l em uso urbano, e 9 a 9,5 km/l em uso rodoviário.
Em baixas e médias rotações, fica nítido que a Titano precisa de um pouco mais de motor para se sair melhor, mas quando “embala”, já fica com um rodar mais agradável e dá conta do recado, mesmo com suas limitações. Em situações mais adversas, como o uso em areia, o motorista precisa pisar além da conta para que o modelo se saia bem. Do contrário, a tendência de atolar é grande.
Em suma, a Titano tem desempenho compatível com uma picape média de 10 a 12 anos atrás. Não é ruim, mas é perceptível que tem margem para uma considerável melhoria.
EQUIPAMENTOS E CONCLUSÃO
A picape da Fiat na versão testada, a intermediária Volcano, tem apenas o básico, dispensando comodidades e “mimos”. Chave presencial com partida por botão, bancos com regulagem elétrica, ar-condicionado de duas zonas, faróis em LED, entre outros itens, são vistos apenas na topo de linha Ranch – e que custa R$ 20 mil a mais pela tabela.
Ou seja, a Titano é sim uma picape relativamente simplória, mas eu diria que ela é “objetiva”, pois ela dispõe daquilo que é o essencial para um veículo de proposta voltada ao trabalho. Outro ponto é o preço público de R$ 239.990, bem abaixo da concorrência, fazendo com que certos itens não sejam tão justificáveis assim para ela.
No entanto, se a marca adotasse ao menos sensor crepuscular e sensor de chuva ao veículo já faria certa diferença para aquilo que a Titano agrega. Esses recursos também são exclusivos da versão Ranch.
Vale a compra? Se a sua proposta é ter um veículo, cuja proposta seja exclusivamente ou prioritariamente o trabalho, sim! A Titano se mostra deveras robusta para o propósito e, mesmo com vendas não tão expressivas ainda, não tem se mostrado um veículo frágil.
Agora, caso a proposta seja ter uma picape para lazer, viagens e ocasionalmente (ou nunca) trabalhar com o veículo, a recomendação é partir para uma solução dentro da Stellantis: a RAM Rampage ou até mesmo a própria Fiat Toro que, mesmo sendo menores e com concepção totalmente distinta, são mais confortáveis e dispõem de mais recursos nessa faixa de preço ou até menor.
Voltando ao assunto preço, a Titano Volcano custa R$ 239.990 de tabela, mas os descontos para vendas diretas na modalidade de CNPJ e produtores rurais são bem generosos, fazendo com que a picape custe abaixo de R$ 200 mil. Para o cliente de varejo também tem sido comum ver preços sedutores, o que faz da Titano uma opção bacana para o consumidor que visa o gasto e não tanto o que aquele veículo vai lhe oferecer.