Avaliação: como foi usar o Peugeot 2008 por mais de 6 mil km?

Como será que se comporta o SUV compacto da marca francesa durante o uso? É isso que vamos responder.

Peugeot 2008 GT 2025

Semanas atrás trouxemos um review detalhando o Peugeot 2008 na versão topo de linha GT, modelo que passou nada menos do que quarenta dias em avaliação pelo Mundo do Automóvel para PCD, o teste mais longo até o momento. Inclusive, foram mais de 6 mil km percorridos com o modelo da marca francesa, do nordeste ao sudeste e vice-versa.

Com isso, nada mais justo do que relatar detalhadamente como foi a experiência de passar tanto tempo com o SUV que aos poucos tem ganhado as ruas do Brasil, ainda que não tenha se destacado tanto entre os mais vendidos do país. E se tem uma coisa que podemos falar é que o 2008 de nova geração é um Fiat na “casca” de Peugeot.

Isso, pois tanto sua motorização quanto a transmissão são herdadas da sua “irmã” italiana, vide que ambas pertencem à Stellantis – resultado da fusão entre PSA e FCA. Já presente também no Peugeot 208 e no trio da Citroën a venda no Brasil, o 2008 tem o propulsor Turbo 200, um 1.0 turbo que detém o título de mais potente do Brasil nessa cilindrada.

São 130 cavalos no etanol e 125 na gasolina, números mantidos no PL8, tendo ainda torque de 20,4 kgfm independente do combustível adotado – a mesma calibração é adotada em qualquer um dos produtos do conglomerado. Tem ainda injeção direta de combustível. Com isso, acabei optando por batizá-lo de “Pulse francês”, guardadas as devidas proporções, claro!

Harmonia entre carro e motor em dia

Peugeot 2008 GT 2025

Chega de apresentações e vamos falar da prática! Assim como todos os modelos com esse conjunto já dirigidos por este que vos escreve (só não conduzi ainda Citroën C3 e Basalt), o casamento se dá de forma muito agradável e diria “perfeita”. Vale destacar que o conjunto tem origem Fiat, mas a plataforma aqui usada é a CMP, de origem PSA.

No entanto, o casamento plataforma e conjunto motriz se dá melhor nos carros da Peugeot e Citroën do que nos da própria Fiat, mas isso não quer dizer que lá seja ruim, pelo contrário. Essa impressão se dá em virtude da plataforma CMP ser mais moderna que a MP1/MLA que a Fiat usa, fazendo com que exista uma certa ‘consonância de épocas’ e, por consequência, favorecendo o bom uso.

Ao rodar com o Peugeot 2008, temos um veículo bastante suave e sólido, sem muitas asperezas e sem aquela vibração excessiva característica dos motores de três cilindros. No uso urbano, o modelo se comporta muito bem, em baixas rotações e não é necessário pisar tanto no acelerador para que o carro saia da inércia com facilidade. Aliás, é exatamente esse o uso da maioria dos consumidores atuais de SUVs: a cidade!

Na rodovia, mesma coisa, um motor de fáceis respostas e retomadas, muito favorecido pela competente atuação da transmissão automática do tipo CVT que simula sete marchas, de “trocas” imperceptíveis e sem aquele esgoelar característico de alguns câmbios desse tipo. Há quem diga que conduzir um veículo CVT seja chato, mas te garanto que os veículos da Stellantis não são.

Inclusive, vale destacar que ainda em 2025 ocorrerá o lançamento do Peugeot 2008 com sistema híbrido-leve, o mesmo adotado na dupla Fiat Pulse e Fastback, devendo ficar restrito exatamente ao modelo na versão topo GT, a aqui testada. O sistema tem como promessa uma ligeira melhoria nos índices de emissões de poluentes e de consumo.

Consumo desapontou, mas pode ser algo pontual

Peugeot 2008 GT 2025

Pois vamos então falar desse tópico, o consumo, sendo que falaremos exclusivamente na gasolina, já que foi o combustível mais utilizado durante esses mais de 6 mil km. De acordo com o INMETRO, o 2008 é capaz de fazer 12,3 km/l já em ciclo urbano e 13,7 km/l em ciclo rodoviário. No entanto, o modelo durante diversas ocasiões dos testes, em cidade, variou entre 9,5 e 10 km/l. Na estrada, variou entre 11,5 e 12 km/l.

São médias consideravelmente abaixo das divulgadas, lembrando que elas servem apenas como um parâmetro e não como tradução da realidade. Ressaltando que o ar-condicionado estava ligado em todas as vezes e o percurso rodoviário foi feito sempre com um ocupante ou em três mais malas em uma velocidade média entre 100 e 110 km/h.

Conversando com proprietários, pude ouvir que alguns chegaram a médias superiores a 14 km/l em estrada, acima do divulgado, o que pode realmente mostrar ter relação com as condições de uso ou com a própria unidade testada em si. No entanto, não deixa de ser algo que chamou a atenção.

Suspensão equilibrada

Peugeot 2008 GT 2025

A suspensão do Peugeot 2008 mostra outra herança da Fiat e, novamente, para o bem! Valendo ressaltar que falamos aqui do primeiro produto de fato na Peugeot com os esforços do time Stellantis por completo – o 208 ainda é da época da PSA.

Encontramos no modelo da marca francesa um acerto bastante equilibrado entre o conforto, a robustez e a dinâmica. Foram diversos tipos de pavimento percorridos com o 2008, onde foi possível perceber muito bem que o veículo filtra com maestria as irregularidades do solo brasileiro.

Na estrada de chão, o carro não se comporta como um simples carro de passeio, transmitindo bem pouco para a cabine as pedras, buracos e cascalhos percorridos. Na cidade, transpõe muito bem valetas e lombadas, com ênfase também na altura em relação ao solo satisfatória e no ângulo de ataque superior em relação a um hatch compacto.

Na estrada, um veículo confortável e bom de curva, não transmitindo ao condutor uma sensação de perigo ao volante, quiçá de um carro “gelatinoso”. Logicamente que não tem a mesma dinâmica dos carros alemães, referência nesse assunto, mas é ligeiramente superior aos carros da própria Fiat, uma das marcas onde a dinâmica é pouco elogiada.

Menção honrosa para os pneus utilizados, de medidas 215/60 R17, da linha Efficient Grip da Goodyear. Não são ruidosos, contribuindo para o conforto dos usuários do veículo.

Sistema ADAS “nervosinho”

Peugeot 2008 GT 2025

O Peugeot 2008 conta exclusivamente na versão GT com alguns assistentes à condução que possuem o intuito de mitigar ou evitar efeitos de colisões, atropelamentos, etc. O sistema ADAS presente aqui contempla os seguintes itens: alerta de ponto cego, assistente de permanência em faixa, farol alto automático e alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência (se necessário).

E é exatamente o alerta de colisão quem mais “incomodou”. Mesmo podendo configurar na central multimídia se ele deve atuar de forma mais precoce, mediana ou tardia, o 2008 parece um carro meio medroso. Em rodovias, não é raro a presença de animais na pista ou o acontecimento de ocasiões em que seja necessário reduzir velocidade. Porém, ao deparar-se com uma redução abrupta, ainda que distante, o sistema já alarma de modo a fazer com que condutores menos atentos acabem de fato se assustando.

Ao mesmo tempo, isso denota eficiência do recurso, já que ele não é capaz de mensurar o que é perigoso de fato ou não, apenas intervindo quando necessário e, caso seja, de forma precisa. Outro sistema é o detector de fadiga, pois mesmo sem apresentar sono ou condução mais agressiva, o veículo pede de forma incessante que o condutor pause a viagem.

Ambos os recursos são passíveis de desligamento, mas deve ser feito a cada vez em que for usar o carro, demandando relativo tempo para isso.

Cadê o piloto automático adaptativo, Stellantis?

Peugeot 2008 GT 2025

Aparentemente é um recurso que aqui no Brasil fica restrito apenas aos modelos da Jeep e da RAM, mas ressalto que o próprio 2008 dispõe desse recurso na variante elétrica que é importada da Europa.

Tem quem trate o piloto automático adaptativo (ACC) como um artigo de luxo ou que até mesmo auxilia na distração do motorista durante a condução. No entanto, principalmente quando falamos de pessoas com deficiência que em sua maioria exigem certo cuidado e possuem maior fadiga em médias ou longas distâncias, o recurso se faz necessário.

Afinal, o Peugeot 2008 GT tem preço de tabela em R$ 173.990, embora o preço praticado seja de R$ 154.990. Como referência, por R$ 143.490 tem o Volkswagen Nivus Comfortline, modelo de segmento inferior e que conta com o ACC. Como rival direto, o Volkswagen T-Cross 200 TSI, uma das versões de entrada, custa R$ 152.490 e também tem.

O que também pesa ainda mais é que o 2008 GT tem uma infinidade de assistentes, ficando ainda mais com aquela impressão de que falta algo.

Espaço interno até atende, porta-malas não tanto

Peugeot 2008 GT 2025

Um dos principais pontos de evolução do 2008 nessa geração foi o espaço interno, muito motivado pelo crescimento de dimensões que teve, sobretudo de entre-eixos. Com 2,61 metros, é a mesma medida de um Hyundai Creta e 4 centímetros maior que um Chevrolet Tracker, ficando 4 centímetros abaixo de um Volkswagen T-Cross.

Isso citando apenas os principais concorrentes, ou seja, o modelo da Peugeot se encaixa como um bom “meio-termo”. Durante a viagem, andei a maioria do tempo no banco traseiro e dividi espaço com algumas bagagens (posteriormente saberão o motivo), mas me mantive confortável por todo o percurso. Lembrando que possuo 1,75 metro e o banco dianteiro não estava tão recuado.

Já para os ocupantes da frente, um ponto bem interessante é o espaço para as pernas, pois o assoalho é bem comprido e, dependendo da estatura, dá para o carona esticar as pernas – nada mau numa viagem longa, diga-se de passagem.

Eu disse que precisei dividir espaço com a bagagem, né? Pois bem, como já dito em algumas matérias, sou cadeirante, então a cadeira já ocupa boa parte do porta-malas.

Numa viagem longa, como a que realizamos, de tempos em tempos é preciso fazer algumas paradas, seja para alimentação, banheiro, entre outros motivos. Para isso, a cadeira precisa estar sempre a postos. Porém, para isso, foi preciso que boa parte das bagagens fossem no banco traseiro.

Isso se dá devido a capacidade reduzida do porta-malas do 2008, apenas 374 litros na forma de medição “tradicional”. Para efeito de comparação, o Creta possui 422, o Tracker conta com 393 litros e o T-Cross conta com 373 litros, mas tem um sistema expansível para 420. A geração antiga tinha 355 litros, ou seja, embora o modelo tenha ganhado boas dimensões, o porta-malas cresceu somente 19 litros.

Limitação de plataforma? Não sei, mas penso eu que não, vide que na Citroën tem a dupla Basalt e Aircross com 490 e 493 litros, respectivamente, ambos também concebidos na plataforma CMP. Inclusive, quando vamos aos hatches, o C3 tem 315 litros e o 208 tem somente 265.

Dirigibilidade é a “menos SUV” do segmento

Peugeot 2008 GT 2025

Conduzir o Peugeot 2008 é uma experiência bastante prazerosa, já que o modelo tem bons motor, câmbio e suspensão, como já citado. No entanto, a posição de dirigir é um ponto de destaque, muito em virtude do i-Cockpit. E isso estreou na primeira geração do 208, quase 12 anos atrás.

Volante pequeno para facilitar as manobras e ter um carro mais controlado, além de localizado num nível abaixo do painel para facilitar a visualização e evitar cansaço visual fazem parte desse conceito adotado pela marca francesa. Somado a isso, um banco que, embora regule em altura, não permite que o condutor dirija de forma tão alta.

Destaco isso como um ponto necessariamente positivo? Não! No entanto, também não destaco como um ponto negativo, pois é algo que exige certa adaptação e que pode não agradar qualquer tipo de pessoa, vide que boa parte consumidora desse segmento busca por um guiar mais elevado, sobretudo o feminino. Sensação de poder, talvez?

Como se comporta perante os rivais para PcD?

Peugeot 2008 GT 2025

Como falado anteriormente, o preço de tabela do modelo está em R$ 174 mil e o preço praticado é de R$ 155 mil. Quando vamos para o preço para PcD, cuja referência deve ser o preço de tabela, o preço do modelo é de R$ 146.578,19 – preços em fevereiro de 2025.

Considerando apenas a precificação para pessoas com deficiência, temos um preço cerca de R$ 3 mil acima de um Hyundai Creta Limited, cerca de R$ 4 mil acima de um Chevrolet Tracker LTZ e cerca de R$ 6 mil acima de um Volkswagen T-Cross Comfortline. Estamos considerando aqui os mais vendidos do segmento e todos estão posicionados como versões intermediárias.

De certa forma isso mostra que o modelo da marca francesa está sim bem-posicionado no tocante ao preço, vide que os principais rivais nas versões topo de linha são mais caros. Levando o Peugeot 2008, o condutor levará o motor mais potente entre os tricilíndricos do segmento, além de um dos que possui maior torque – empata com o T-Cross.

Leva ainda uma ampla lista de equipamentos, inclusive o teto-solar panorâmico e o sistema de câmeras com visualização 360º, o que nenhum dos modelos citados dispõe. No entanto, fica devendo coisas básicas, como saída de ar traseira e retrovisor fotocrômico. Outra exclusividade do modelo da marca francesa é o freio de estacionamento eletrônico, algo que apenas o Creta terá e em versões superiores.

Com isso tudo exposto, podemos dizer que o 2008 GT é um carro honesto. Não apenas na modalidade, mas para o próprio público geral, satisfazendo em conforto e conveniência em boa parte dos recursos que são demandados para essa faixa de preço e segmento.

Respondendo ao questionamento: sim, ele é uma boa compra! Não espere tantos esmeros, mas sim um veículo coerente, tecnológico, com design diferenciado e que tem um desempenho a contento.

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