O Mundo do Automóvel para PcD avaliou um dos mais recentes lançamentos da francesa Citroën no Brasil, o SUV compacto C3 Aircross na versão topo de linha Shine com cinco lugares – lembrando também da opção de sete lugares. E, como já antecipado no título, o modelo tem bastante simplicidade, mas o principal propósito de versatilidade é cumprido.
Vale destacar que a Stellantis, maior conglomerado automotivo no mundo, segmentou suas marcas de forma bastante definida, ficando a Citroën e a Fiat como “portas de entrada” no portfólio. Para os mais saudosistas, essa ruptura foi algo negativo, pois até a época da finada PSA, a marca era reconhecida como inovadora e com bastante foco em detalhes, como o acabamento.
O que quero dizer com isso? Que toda a simplicidade adotada no C3 Aircross não é algo meramente adotado, mas sim “estratégico”, também valendo destacar que ele possui como base o hatch C3. Porém, ao mesmo tempo em que a Citroën “perdeu sua essência”, a sinergia com a Stellantis lhe rendeu ótimos frutos, como as boas mecânicas Fiat (Firefly e Turbo 200) e a robustez dos veículos da irmã italiana feitos por aqui.
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Falando propriamente do C3 Aircross, o modelo tem sim uma simplicidade exacerbada, mas outros pontos o tornam um carro deveras cativante e que (a depender do seu uso) merece ocupar um lugar na sua garagem.
Talvez seja outro exagero chamá-lo de SUV, pois o seu estilo e forma de condução são muito mais semelhantes aos de uma minivan, mas também faz parte de uma certa estratégia. Ademais, para um veículo ser desse segmento, precisa preencher alguns critérios e o C3 Aircross preenche.
E comentando sobre sua aparência, o SUV da Citroën tem frente bem parecida com a do irmão C3, adotando os mesmos faróis divididos com os LEDs diurnos numa porção superior. Se difere no para-choque próprio, proporcionando uma grade que transmite mais robustez e imponência – necessário para o segmento o qual ele atua. A comparação com a Chevrolet Spin é inevitável e aqui vai um ponto contra para o “francês”, a ausência de faróis em LED, presentes no modelo da Chevrolet desde a versão de entrada e sequer oferecidos no Aircross.
Nas laterais, rodas de 17 polegadas diamantadas, tendo ainda as clássicas molduras plásticas na cor preto fosco que permeiam a parte inferior, tendo o design composto por teto e retrovisores contrastantes e que acabam ajudando a compor um certo estilo – podem ser na cor preta ou branca, caso da unidade testada. As barras de teto na cor preta também realçam o design.
Já a traseira traz lanternas em um formato similar a um “C”, muito provavelmente remetendo ao nome do carro, interligadas por uma barra na cor preta que traz uma textura bastante interessante e peculiar. Assim como na dianteira, o duplo chevron da marca vem com a face na cor preta.
Passando para o interior, o Citroën C3 Aircross segue com a filosofia de simplicidade, adotando plásticos rígidos de diferentes texturas pelo interior e com aspecto relativamente simples. Aliás, o painel é exatamente o mesmo do hatch C3, bem como os forros de porta.
Ainda no habitáculo do modelo, a ergonomia não é um dos pontos fortes do modelo, já que os comandos de painel, ar-condicionado e central multimídia ficam distantes do condutor dependendo da estatura, fazendo com que o corpo seja ligeiramente inclinado para o devido manuseio. Outra questão que poderia ajudar na ergonomia é a regulagem do volante, pois ela é somente em altura, devendo em profundidade.
Central multimídia de 10 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, assim como o painel de instrumentos totalmente digital de 7 polegadas são bons pontos do SUV da marca francesa, apresentando boa qualidade. Nela é exibida a imagem da câmera de ré que poderia ser de uma qualidade superior. Apenas o manuseio do painel pelos comandos do volante que é um pouco confuso, mas com o tempo é fácil de lidar.
Já os passageiros do banco de trás vão com bastante conforto e espaço, graças ao entre-eixos de 2,67 metros do modelo, bem amplo. O único “porém” está nos comandos de vidro traseiros que também são uma forma de simplificação do modelo, ficando abrigados no console central.
O porta-malas de 493 litros de capacidade é certamente um dos maiores destaques e fatores de compra do modelo, atendendo plenamente as mais diversificadas demandas, como famílias, taxistas, motoristas por aplicativo e pessoas com deficiência, principalmente as cadeirantes. No segmento SUV apenas um porta-malas é maior, o do Fiat Fastback, mas por ter uma carroceria cupê não consegue atender todas as situações como o Aircross.
A lista de equipamentos é composta do trivial para um veículo atual, ou seja, tem itens como ar-condicionado (digital opcionalmente), direção elétrica, trio elétrico, central multimídia com câmera de ré, sensor de estacionamento traseiro, controles de tração e estabilidade, painel digital, rodas de liga-leve, faróis de neblina e bancos em couro.
Como dito anteriormente, fica devendo um conjunto de iluminação por LEDs, vide modelos nessa faixa de preço, assim como os airbags de cortina (são apenas frontais e laterais). Sistemas de auxílio à condução seriam bem-vindos, pelo menos os alertas, mas dá para conviver sem eles tranquilamente.
AO RODAR
Se “superficialmente” o C3 Aircross pode não ser tão cativante, ele pode conquistar o usuário na hora de andar, o que não quer dizer que não tenha pontos negativos. A começar pelo motor Turbo 200, o 1.0 turbo da Stellantis, que rende ao modelo uma potência de 130 cavalos com etanol e de 125 na gasolina a 5.750 rpm com 20,4 kgfm de torque a 1.700 rpm em ambos os combustíveis. Atua com uma transmissão automática CVT que simula sete marchas.
É o mesmo conjunto que tanto Fiat quanto Peugeot utilizam e, assim como nos demais, aqui não é diferente. Diferente de vários câmbios desse tipo, os modelos da Stellantis não possuem a “letargia” característica, desenvolvendo muito bem em baixas rotações e situações urbanas, como saídas de semáforo. Na rodovia, ultrapassagens são feitas de forma segura e as retomadas são satisfatórias.
O modo Sport também auxilia bastante, deixando o pedal do acelerador um pouco mais sensível e prolongando as rotações para as simulações de troca de marcha.
Com relação ao consumo, todos os percursos foram feitos na gasolina e com ar-condicionado ligado. Na cidade, médias variaram entre 9,5 km/l e 10,5 km/l – INMETRO aponta 10,6 km/l. Tudo isso dependendo das condições de tráfego de cada momento, ressaltando que os testes se dão na cidade de Natal-RN e o relevo é basicamente plano.
Na rodovia, médias entre 13 e 17 km/l, também dependendo das condições de tráfego (quanto melhor, menos o carro consome) – INMETRO aponta 12 km/l. A média geral durante os 300 km de avaliação foi de 11,6 km/l. Portanto, o Citroën C3 Aircross é um modelo bastante econômico para a proposta e se essa for uma das suas prioridades, considere-o.
Outro ponto positivo do C3 Aircross está na suspensão, calibrada de forma acertada para o solo brasileiro e que em estradas de terra se comporta muito bem, bem como em valetas, estradas de paralelepípedo e irregularidades. Esse pode ser considerado um dos maiores acertos do time de engenharia da Stellantis, adotando uma suspensão “estilo Fiat”.
Porém, se os modelos da italiana são conhecidos por não terem uma dinâmica muito atrativa na rodovia, balançando em curvas, o C3 Aircross tem isso de forma bastante controlada mesmo com a carroceria alta e a suspensão também ligeiramente elevada. Contudo, em velocidades mais elevadas em retas, fica claro que o modelo dá uma leve chacoalhada.
A direção com assistência elétrica na cidade atende super bem, apresentando boa leveza para manobras. Já na estrada, seu peso se dá de forma um tanto artificial, ficando pesada além da conta em algumas situações e leve demais em outras, comprometendo a segurança em alguma eventualidade, como desvio de animais ou buracos.
Outro “pênalti” é para o isolamento acústico, mas de forma bastante peculiar. Ao invés de passar barulho do motor para a cabine, fica perceptível um som de vento, obrigando até os ocupantes do veículo a conversarem em um tom de voz mais alto ou até mesmo aumentar mais o volume de uma música.
CONCLUSÃO
Com preço público de R$ 130.990, o C3 Aircross Shine de 5 lugares pode ser facilmente encontrado na rede de concessionárias da Citroën com descontos sedutores. Já para PcD tem isenção de IPI e bônus, saindo por R$ 111.989,17.
A julgar pela proposta mais específica do modelo, sobretudo com 7 lugares, pode ser uma escolha bastante sensata. Porém, atualmente tem o “fogo amigo” do Basalt, o SUV cupê da marca, tendo os mesmos predicados de porta-malas e espaço interno amplos e do Aircross num preço menor. Qual dos dois escolher? Sugiro que vá até a concessionária mais próxima e faça o teste em ambos para definir a compra
Ainda não testamos o Basalt, então as considerações aqui são feitas para o Aircross especificamente. Caso deseje por um veículo robusto, de mecânica confiável, espaçoso, ágil e versátil, considere o SUV da Citroën para a sua garagem, ainda que tenha que renunciar a um nível de segurança superior, acabamento mais primoroso e recursos de tecnologia melhores.
Portanto, ele sai aprovado dos testes realizados pelo Mundo do Automóvel para PcD.